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14. VOCÊ QUER ESSA MISSÃO_ s n#.png

Boa tarde , como estão as coisas por ai?

 

Ah, a vida missionária, suas emoções e desafios. 

 

Começo essa carta com o coração queimando para te contar dos últimos dois meses e o que planejamos para frente.

 

Você sabe muito bem de como nos empenhamos na Ucrânia, infelizmente ainda não conseguimos ir para lá, mas o máximo de recursos foram enviados até então e o constante contato com os irmãos Ucranianos nunca cessou. Nosso desejo era ter ido para dentro do território, porém, no mês de junho quando as coisas pareciam estar se estabilizando e estávamos emitindo as passagens para ir, 21 bombas caíram na cidade da nossa família (talvez não saiba, mas a esposa do meu pai é Ucraniana, minha mãe faleceu quando eu tinha dois anos de idade) A cidade da Olena se chama Zythomyr, a igreja que sua família frequenta é pastoreada pelo irmão Boris, e é uma igreja messiânica, tento muitos irmãos judeus. Infelizmente com a guerra a igreja praticamente fechou, e o irmão Boris continua viajando sem parar levando mantimentos. Tínhamos o plano de que ele participasse conosco do Overmission 22, porém a mais de 3 semanas não conseguimos contato. Por favor ore por ele.

 

O nosso plano para a Ucrânia é continuar o apoio direto aos irmãos de Zythomyr, e assim que a guerra passar, fazer uma operação pós-guerra, que será similar a esse que te contarei agora.

 

Não sabemos os mistérios de Deus, mesmo que imaginamos que Deus tenha nos despertado 4 meses antes da guerra começar lá, não entendemos porque tudo acontece, o que sabemos é que precisamos estar preparados. Porém, como o exemplo Bíblico, quando os discípulos eram impedidos de ir para algum lugar, o Espírito os movia a outro. Assim também fomos movidos a ir para uma nova nação, dessa vez, no continente Africano. 

Com muita alegria e grande expectativa anuncio a Uganda! Iremos para lá em Outubro, se Deus permitir! Uma ação de um mês, com várias pessoas, até mesmo uma equipe de irmãos de outros países. Cremos que será um tempo de poder de Deus para aquele povo! 

Faremos ações diárias e então a Cruzada final, que eles chamam de festival! Trazendo os doentes para anunciar o Cristo que salva e cura! Confesso que estava com saudade da África, grato a Deus que o Senhor está nos enviando para lá. 

 

Agora te conto outro desafio. Europa. 

 

Ah, devo dizer, é diferente pregar aqui do que em qualquer outro lugar do mundo, e nisso, nosso Pai tem me ensinado.

 

Você já deve ter me ouvido falar sobre 1 Coríntios 9, acerca da vida missionária de Paulo, né? Eu falo muito sobre isso. No entanto, algo novo o Espírito tem me mostrado, ou ao menos, chamando minha atenção. 

 

O fenômeno que vivemos no Brasil é maravilhoso, o número de pessoas que seguem Cristo é uma benção que talvez só daremos real valor se um dia perdermos isso. Digo isso, pois aqui isso não acontece. E a pergunta do missionário é, como mudar essa realidade? 

Sempre volto ao capítulo 9 de 1 Coríntios, para mim, ali estão muitos tesouros.

A verdade é que sempre estamos aprendendo com Deus, e se nos mantermos humildes para querer aprender, Ele continuará nos ensinando. 

De uns meses para cá, Deus tem me mostrado como eu não faço direito o que fui chamado para fazer. 

Pode ser que um dia, até tenha feito, porém hoje não é assim. 

 

Veja o que Paulo diz: 

 

Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais.

E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei.

Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei.

Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.

E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele.

 

Uma parte do capítulo, fizemos bem, pregar! Ele diz que ele vivia para pregar. Isso eu posso dizer que faço, prego. Porém, olha só, ele não disse que apenas pregava. Ele se “fazia de” e pregava. 

Nós, como cristãos, somos bons em pregar, mas péssimos em nos "fazer de" Não sei você, mas hoje Deus está me ensinando de novo a viver no meio de pessoas que não creem e mostrando como sou preguiçoso na missão. Sabe porque? Porque não trabalhamos o suficiente para novas amizades, lavamos as mãos quando pregamos e não aceitam, dizemos “eu preguei”. 

Paulo não apenas pregou, ele se tornou um com aqueles que pregou. Essa é a parte mais difícil, essa é a parte que a religião odeia, essa é a parte que não tem glamour, é a parte difícil de explicar. 

 

Quando eu disse que Deus estava me mostrando o quanto sou preguiçoso, é por isso. Eu posso ir às ruas, em ações evangelísticas, orar pelos enfermos, anunciar Cristo nas praças. Isso é uma delícia, é gostoso de fazer, sabemos fazer. Porém, e quando o chamado é para sair da nossa zona de conforto e gastar mais e mais tempo para conseguir alcançar alguém? 

É mais fácil nos esconder atrás da “pregação” dizendo, “eu já preguei”. 

Quando agimos assim, fazemos pela metade. 

 

Demorou 30 anos de idade, 13 seguindo a Cristo em missão, para entender que é fácil ser Igreja com a Igreja, difícil e desafiador é ser Igreja se tornando um com as pessoas do mundo para então levamos a Cristo. 

E não é difícil pelas tentações, essa é a parte menos complicada. Com bons amigos, e uma vida com Jesus, elas são vencidas. A parte mais complicada é conseguir deixar nossos preconceitos religiosos. 

Imagina se eu chegar para o Brasil hoje e falar : “Deus me enviou para os rockeiros, a partir de hoje não serei mais um pregador de púlpitos, minha imagem irá mudar, não posso mais ser reconhecido como o missionário Luca Martini se não minha missão entre os perdidos estará comprometida.” (Afinal, que roqueiro quer um missionario?) E que gentil quer um judeu? E que Judeu quer um gentil? E que Catolico quer um evangélico? Um evangélico quer um catolico? Um arabe quer Judeu? Um Judeu aceita o arabe? O pecador e o santo? Água e óleo? Um vegano aceita o carnívoro e vice versa? 

Estamos mal acostumados com a realidade do Brasil, que por mais que tenha muitos problemas, somos em maioria um povo unido. Essa não é a realidade do mundo por ai. O mundo é de extremos e desunião.

 

Você acredita que a maioria dos cristãos apoiariam? Eu não acredito. E essa é uma falha nossa, e por isso somos bons em pregar e péssimos em nos fazer um com aqueles que queremos alcançar. 

 

Essas verdades estão doendo em mim. E sabe a parte que mais dói? Além de perceber que eu estou fazendo pela metade o que Jesus me chamou para fazer? É que Paulo fez tudo que fez por “alguns”. Ah, seria tão melhor ouvir que Paulo fez o que fez e todos foram salvos, muito mais importante não é? Imaginar toda uma nação salva? Te confesso, como um motivador para missões, é muito melhor quando você promete para jovens que as nações serão transformadas, todos querem viver por algo grandioso. Porém, essa não é a verdade, todos os desafios e anos de trabalho foram por alguns. 

Nisso cai mais uma vez aquilo que a religião ama, os números. 

 

Se o chamado de Deus para nossa vida fosse apenas por alguns, faríamos com o mesmo coração e intensidade que fazemos pelas multidões? 

 

Bem-vindo a Europa, onde o Evangelho não é seguido por multidões, pelo contrário. 

 

Porém, uma alma vale mais do que o mundo inteiro. Que o Senhor nos converta a essa verdade.

 

Esse assunto daria um livro, temos muito a conversar. 

 

Mas por aqui deixo um pedido, ore por nós. E saiba, seu apoio é muito importante, sempre agradeço e mais uma vez faço, obrigado.

 

Com amor.

 

De seus irmãos, Luca e Letícia. 

 

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